E então eu preciso fazer as malas. E não consigo.
Acho que isso tudo é reflexo da minha habilidade em nunca ter feito uma decisão completamente segura, sabendo o que eu queria, sem pestanejar. Tenho essa mania de levar sempre a incerteza, de levar sempre os "e se...?".
Hoje, quando saía do cursinho, um menino me chamou.
- Tem uma moeda pro calouro?
- É calouro do quê?
- Engenharia Química.
Vi nele uma alegria desmedida, uma felicidade que fazia questão de saltar por aí dizendo "Olha, mãe! Sou um universitário de verdade!". Eu me enxerguei nele. Há pouco mais de três anos, era eu quem estava feliz daquele jeito. E pelo mesmo motivo.
Hoje, quando ele pronunciou orgulhosamente essas duas palavrinhas - Engenharia Química - algo instantaneamente me fez rir. Rir muito. Rir alto. Depois de boas gargalhadas sinceras, abri minha carteira e peguei uma moeda. Nesse meio tempo, tive vontade de falar um milhão de coisas pra ele. Você vai sofrer, você não sabe o que está fazendo, corra enquanto é tempo! Mas aí percebi que ele não é eu. Achei melhor, então, ficar com o discurso básico.
- Ah, eu fazia Engenharia Química.
- Sério? Onde?
- Na federal também.
- E por que você largou?
(Aqui, de novo, veio a vontade de falar aquele um milhão de coisas.)
- Ah. Porque eu não gostava.
Desejei a ele boa sorte - tenho certeza de que ele vai precisar de muita -, entreguei a moeda e fui embora.
No caminho, os "e se...?" já ocupavam o meu pensamento. Fiz questão de espantá-los o mais rápido que pude: suposições não levam a lugar algum. E lugar de passado é no passado.
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Acabei de perceber que toda vez que comento com alguém que decidi mudar de curso no 3º ano da faculdade a reação imediata dessa pessoa é fazer uma cara de espanto e perguntar: "por quêêêê?", nessa entonação mesmo, cheia de 'ê's, já me recriminando. Vou começar a inventar uma desculpa diferente pra cada vez que me perguntarem isso de novo. Bando de gente chata.