O aperto no peito me fez muito sentido quando lembrei que é quase outubro. Um mês triste. A cada memória que ressurge, lacrimejo. É difícil ser forte quando lembro que você não está aqui, ou quando lembro que você sequer chegou a ver toda essa mudança que eu consegui fazer na minha vida. A última conversa que tivemos foi sobre - veja só - baterias de carro. Eu mal consegui disfarçar o embargo na minha voz por te ver daquele jeito, numa cama de hospital. Minutos depois saí com a desculpa de ir ao banheiro mas, na verdade, fui chorar no corredor. Coisa que fiz mais de uma vez, aliás. Os corredores dos hospitais me eram estranhamente familiares.
Um dia desses me lembrei da sua foto, aquela que eu tirei naquela chácara em que fizemos a festa de bodas. Acho que ela te retrata tão bem. E na hora foi uma coisa tão simples, tão natural. Eu estava andando por lá, sozinha, tirando algumas fotos, quando te encontrei passeando com uma taça de vinho na mão. Eu apontei a câmera e você parou. Posou. Sereno como sempre. Sereno, tranquilo, como sempre vinha até a janela de casa e, depois de apertar a campainha três vezes, fazia a mesma pergunta de sempre: "o pai? a mãe?". Ou quando chamava o pai por "che, Leo"... Lembrar da sua voz me dá um aperto no peito mais forte ainda.
Te carrego comigo na forma de andorinha, mas a falta nunca vai deixar de ser imensa.