segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O aperto no peito me fez muito sentido quando lembrei que é quase outubro. Um mês triste. A cada memória que ressurge, lacrimejo. É difícil ser forte quando lembro que você não está aqui, ou quando lembro que você sequer chegou a ver toda essa mudança que eu consegui fazer na minha vida. A última conversa que tivemos foi sobre - veja só - baterias de carro. Eu mal consegui disfarçar o embargo na minha voz por te ver daquele jeito, numa cama de hospital. Minutos depois saí com a desculpa de ir ao banheiro mas, na verdade, fui chorar no corredor. Coisa que fiz mais de uma vez, aliás. Os corredores dos hospitais me eram estranhamente familiares. 

Um dia desses me lembrei da sua foto, aquela que eu tirei naquela chácara em que fizemos a festa de bodas. Acho que ela te retrata tão bem. E na hora foi uma coisa tão simples, tão natural. Eu estava andando por lá, sozinha, tirando algumas fotos, quando te encontrei passeando com uma taça de vinho na mão. Eu apontei a câmera e você parou. Posou. Sereno como sempre. Sereno, tranquilo, como sempre vinha até a janela de casa e, depois de apertar a campainha três vezes, fazia a mesma pergunta de sempre: "o pai? a mãe?". Ou quando chamava o pai por "che, Leo"... Lembrar da sua voz me dá um aperto no peito mais forte ainda.

Te carrego comigo na forma de andorinha, mas a falta nunca vai deixar de ser imensa.


sábado, 14 de setembro de 2013

Aconteceu ontem. 
Eu estava no ônibus, indo pra casa de uma amiga, quando percebi que estava sorrindo involuntariamente. O ônibus passava pelo meu lugar favorito da cidade: as pontes que ligam a Francisco Morato com a Rebouças e várias outras ruas, e eu estava ali, sorrindo pra um monte de concreto, de carros (que tinham, provavelmente, muita gente mal humorada dentro deles) e um horizonte que tinha como peça um rio Pinheiros muito fedido. Meu caso de amor por esse lugar é antigo e sincero. Começou já na primeira vez em que vim pra São Paulo, no dia da matrícula da USP. No carro, tentando voltar pra Curitiba, mas presos em meio a congestionamentos intermináveis, passamos por essas pontes e eu fiquei atordoada com a urbanidade desse lugar. As luzinhas dos carros, a estação da CPTM, o rio Pinheiros... Todos esses elementos típicos de São Paulo ali, na minha frente. Tudo de que eu sempre ouvi falar, mas nunca tinha visto. E eu estava ali.
Mais tarde o sorriso involuntário se repetiu algumas vezes. Da casa da minha amiga, fomos até uma Avenida Paulista louca e fascinante. Uma Paulista que, apesar de ser a mesma que está lá, todos os dias, naquela noite de sexta estava incrivelmente diferente. Uma banda que fazia um show doido na frente do Center 3, um duo de sax e bateria com cabeças de panda e cavalo tocando Claudinho e Bochecha, uma roda de capoeira na frente da Cásper... E gente, muita, muita gente. Gente de todos os tipos. E me pareceu incrível que eu estava ali, no meio de todas aquelas pessoas, sendo uma delas. Uma pessoa que mora em São Paulo. Uma pessoa que pega o metrô, e agora sabe mais ou menos que ônibus pegar quando quer ir pra algum lugar. Uma pessoa que aos pouquinhos está construindo a vida aqui e que ontem, enquanto sorria involuntariamente, percebeu que não se sentia tão feliz assim em um lugar há muito tempo.