quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Madrugada. Mesmo com a cortina da janela do ônibus aberta enxergo pouco. Borrões de luz, borrões de casas à beira da estrada, borrões de postos de gasolina. Quantas vezes, a partir de agora, vou fazer esse caminho? Apesar de tê-lo feito apenas duas vezes tenho a impressão de que já o sei de cor. A familiaridade me assusta. Por que eu nunca consigo dormir nessas viagens? Tenho inveja de quem encosta a cabeça no banco e consegue fechar os olhos. Enquanto o moço da minha frente dorme um sono profundo - sua cabeça acompanha os movimentos do ônibus e o seu corpo permanece imóvel, estático, paralisado - eu fico com os meus demônios, pensando em tudo o que está por vir e em tudo o que estou deixando. Medo e animação tomam conta de mim repetidamente, um substituindo o outro de uma maneira nada saudável. Nesse momento tudo o que eu quero, com todas as minhas forças, é dormir. Eu só quero dormir. Mas por que eu não consigo?
Por que eu não consigo dormir?
Por que eu não consigo dormir?
Por
que
diabos
eu
não
consigo
dormir?
    

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

meu rei migrou da barriga pro coração
e não sei o que é pior
pensar que só eu tenho razão
ou achar que os sentimentos dos outros são em vão.

(de algum dia perdido do ano de 2008)

***

No meio da mudança encontrei um caderno meu antigo de frases/poesias/textos. Esse aí de cima é um dos primeiros do caderno, então eu chuto que seja de 2008 (o ano do meu terceirão e incrivelmente o meu ano de maior criatividade e produtividade textual). Tô adorando ler tudo isso de novo.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Ritual

A água escorre pelo ralo
Cuspo creme dental com sangue
No espelho, rosto velho conhecido
A maquiagem já não disfarça as olheiras
O negro dos meus cílios se espalha
E o batom
vermelho 
borrado.