segunda-feira, 16 de junho de 2014

Depois de um suspiro profundo, ela disse:
- Acho que preciso ir embora.
- Mas já?, respondeu ele, deitado na cama. Tinha em mãos uma taça de vinho tinto que havia carregado até o quarto depois do jantar.
- É... Mas eu espero você terminar o vinho, disse ela, sorrindo um sorriso triste.
Chamou-a para deitar ao seu lado. Ela foi, repousou a cabeça em seu peito. Dessa vez, foi ele quem suspirou.
- Vou tomar bem devagar, então.

sábado, 7 de junho de 2014

Ando tão fora do lugar que mal tenho reparado nos detalhes das coisas. Logo eu, que costumava observar tudo ao meu caminho. As pessoas nos ônibus, os carros, o céu. A impressão que tenho é de que estou vivendo um grande período de amnésia alcoólica na minha vida - aquele buraco na memória em que você faz coisas, todas conscientemente e com algum motivo, mas não lembra uma coisa sequer depois. Tudo tão no impulso, tudo tão de repente. 
Já há algum tempo não tenho me sentido eu mesma. Mudei o corte de cabelo; gostei por pouco tempo. Mudei os óculos; não tenho mais certeza. Evito me olhar no espelho. Me sinto uma estranha. 
No auge dos meus quase-vinte-e-três-anos ando perdida por São Paulo, no modo piloto automático, sem saber o que buscar. Quem sabe, em breve vem a ressaca do dia seguinte junto com as risadas e arrependimentos pelas histórias bêbadas. Alguma coisa vou sentir, pelo menos.