quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Sobre olhares melancólicos

Quinta-feira, 18h. Estação tubo provisória do Passeio Público.

Meu cartão transporte, como de costume, só funcionou na segunda tentativa. "É mais um dia insuportável que não chega ao fim", pensei. 
O olhar vago que trago desde ontem denuncia a minha tristeza. Como se fosse um mantra, repeti para mim mesma o dia inteiro: eunãovouchorarempúblico, eunãovouchorarempúblico, eunãovouchorarempúblico.
Na espera pelo ônibus minha agonia crescia. Impacientemente, virava a cabeça para a esquerda a cada segundo, ansiando ver à distância o pequeno borrão vermelho que me salvaria. O tempo passava e se tornava ridícula a forma como uma pequena multidão se aglomerava cada vez mais naquele também ridículo espaço de espera. Foi aí que, em uma das minhas viradas de cabeça, um olhar encontrou o meu. O moço loiro subiu a rampa até um pouco antes da catraca. Tirou um cigarro do bolso, olhou para mim de novo e começou a fumar. Eu, perdida no meu mundo, continuei com o olhar vago, esperando o ônibus, a porcaria do ônibus que não chegava logo. O moço loiro, ao terminar o cigarro, resolveu passar além da catraca. Estávamos naquele momento a exatamente uma pessoa de distância. Me senti observada, e me surpreendi ao notar que era justamente ele quem me observava - e que o olhar dele era, assim como o meu, melancólico. Por instantes nos prendemos àquilo: doei a ele minha melancolia, e ele doou a mim a sua.
Então, de repente, fomos interrompidos: o tão esperado ônibus, ah, é ele sim, ele chegou! Sem vontade própria, fui levada pela pequena multidão para dentro, e lá arranjei espaço perto da porta 4. Só quando o ônibus arrancou me lembrei do moço loiro: depois de procurar por alguns segundos, encontrei novamente o seu olhar melancólico perto da porta 3. Porém, as manobras do biarticulado impossibilitavam que continuássemos a nos comunicar. 
Quando menos percebi o alvoroço perto da porta começou a aumentar, enquanto a velocidade do ônibus começou a diminuir. A moça da gravação avisou: "Próxima parada: estação central. Desembarque por todas as portas." 
Passada a confusão momentânea, fecharam-se as portas e o ônibus continuou seu caminho.
Busquei novamente o olhar do moço loiro, mas não o encontrei.

Um comentário:

Anti disse...

Bonito e curitibano!